Postado em 07/mar/2019
As florestas tropicais abrigam mais de 53.000 espécies de árvores, o que representa 96% da diversidade de árvores do mundo. Estas florestas hiperdiversas estão ameaçadas pelas altas taxas de desmatamento. Quando uma pastagem ou um cultivo agrícola é abandonado, ele pode ser rapidamente colonizado pela floresta que regenera naturalmente, as chamadas florestas secundárias. Poderiam essas florestas secundárias ajudar a revereter a perda de espécies e trazer as espécies nativas de volta?
Uma rede internacional de ecólogos da América Latina, Estados Unidos e Europa, liderada por pesquisadores da Universidade de Wageningen, publicaram esta semana um estudo na revista científica Science Advances onde elucidam o papel das florestas secundárias na conservação da diversidade de árvores tropicais. A rede inventariou as árvores de 1.800 parcelas em florestas tropicais localizadas em 56 áreas de estudo de 10 países da América Latina.
Este estudo é um produto da rede colaborativa em florestas secundárias chamado 2ndFOR. A rede envolve 85 pesquisadores de 16 países, e tem como foco estudar a ecologia, dinâmica e biodiversidade das florestas secundárias tropicais e compreender os serviços ambientais que elas proveem em paisagens modificadas pelo homem. A rede 2ndFOR é coordenada pelo Prof. Lourens Poorter, Prof. Frans Bongers e Dr. Danaë Rozendaal da Universidade de Wageningen, na Holanda.
Pesquisadores do departamento de Engenharia Florestal (DEF) da Universidade Federal de Viçosa também fazem parte de esta importante REDE (2ndFOR) de florestas secundarias, onde tem tido a oportunidade de contribuir em diferentes etapas do processo de pesquisa, desde a coleta de dados em parcelas de floresta Amazônica, como também na construção de artigos científicos. Os pesquisadores da UFV são o professor Sebastião Venâncio Martins, coordenador do Laboratório de Restauração Florestal (LARF), o Dr. Pedro Manuel Villa, pós-doutorando do LARF, e o professor Silvio Nolasco de Oliveira Neto. Além disso, estes pesquisadores tem promovido a inclusão da UFV nesta REDE colaborativa de prestigio mundial.
Neste artigo os pesquisadores compararam os dados de campo das florestas secundárias de diferentes idades com o de florestas maduras bem conservadas adjacentes. O estudo mostrou que o número de espécies (riqueza) nos fragmentos de florestas regenerantes se recupera em poucas décadas, mas que a composição de espécies pode demorar séculos para se assemelhar às florestas maduras originais ou nunca se recuperar.
A Dra. Danaë Rozendaal, líder do estudo afirmou “Ficamos impressionados ao descobrir que pode levar apenas cinco décadas para se recuperar a riqueza de espécies que normalmente é encontrada em florestas maduras bem preservadas, e que em apenas 20 anos de regeneração 80% do número de espécies já está presente. De acordo com a pesquisadora, “Este resultado enfatiza a importância das florestas secundárias para a conservação da biodiversidade em paisagens modificadas pelo homem.”
Apesar da rápida recuperação do número de espécies, o estudo também mostra que as espécies de árvores encontradas nas florestas regenerantes é normalmente diferente daquelas encontradas nas florestas maduras adjacentes. Após 20 anos de regeneração, apenas 34% das espécies são as mesmas encontradas nas florestas maduras. Portanto, pode demorar séculos até que as florestas secundárias recuperem as mesmas espécies da floresta original, se isso realmente chegar a acontecer. O Prof. Lourens Poorter, líder da rede 2ndFOR, diz que “Ainda que as florestas secundárias jovens tenham papel importante na conservação de espécies em paisagens modificadas pelo homem, elas não abrigam muitas das espécies encontradas nas florestas maduras bem conservadas. Portanto, ele recomenda fortemente que “Ambas as florestas secundárias e maduras devem ser preservadas para garantir a conservação da biodiversidade em paisagens modificadas pelo homem.”
Este estudo singular tem implicações diretas para políticas públicas e para a prática da restauração florestal. A regeneração natural tem sido vista como uma forma ecologicamente eficiente de se recuperar grandes extensões de florestas com menor custo do que plantios de mudas. Realmente a regeneração natural pode ser o método ideal para se atingir as metas de restaurar 350 milhões de hectares de florestas até 2030, como definido no acordo internacional Bonn Challenge. Os pesquisadores participantes da UFV comentam que “É uma ótima notícia que a regeneração natural pode restaurar a biodiversidade de árvores relativamente rápido. No entanto, é fundamental que aconteçam também ações de restauração focadas em espécies típicas de florestas maduras junto à conservação dos remanescentes florestais para garantir a conservação das espécies de árvores tropicais no longo prazo.”
Link para o artigo: http://advances.sciencemag.org/cgi/content/full/5/3/eaau3114
Link da REDE: www.2ndfor.org
Para mais informações contate:
Dr. Pedro Manuel Villa, pedro.villa@ufv.br
Dr. Sebastão Venâncio Martins, venancioufv@gmail.com